sábado, 28 de março de 2009

A Conquista e colonização da Amazônia e a submissão do indígena

História de Rondônia

A Conquista e colonização da Amazônia e a submissão do indígena

A colonização da Amazônia - que hoje corresponde aos estados do Amazonas e do Pará - foi estimulada pelas preocupações de garantir a posse e o acesso ao rio Amazonas e impe¬dir a presença de rivais de outros países. A base de ocupação se deu através do extrativismo vegetal e do apresamento indígena.
O extrativismo vegetal consistiu na exploração das chamadas "drogas do sertão”: cacau, guaraná, borracha, urucu, salsaparrilha, castanha-do-pará, gergelim, noz de pixurim, baunilha, coco, etc. Por isso, a escravidão tinha ali um terreno desfavorável, pois a exploração da Amazônia dependia do bom conhecimento da região. Daí a importância dos índios locais que serviam de guias. A forma predominante que caracterizou a integração da Amazônia ao conjunto da economia colonial foi o estabelecimento das missões jesuíticas, que chegaram a aldear perto de 50 mil índios.



HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO DA AMAZÔNIA


(Lílian Maria Moser)


“... Do rio das Amazonas afirmam os que descobriram que seus campos parecem Paraísos e suas ilhas jardins, e que se a arte ajudar a fecundidade do solo serão paraísos e jardins bem tratados.” (Alonso de Rojas)


Introdução

A abordagem que iremos realizar sobre a Amazônia, no seu processo de colonização será na perspectiva da História Social, em que os contextos sócio, político e econômico são responsáveis pela forma de colonização, numa relação que se estabelece entre o paradigma “Velho Mundo e o Novo Mundo”. Falar da Amazônia significa realizar uma viagem no tempo e tentar entender que os europeus imaginavam e pensavam a respeito dessa terra fantástica. O fantástico fora construído pelas histórias ainda durante a Idade Média, pois, segundo GONDIM,1994:16:

“...o imaginário do homem medieval estava povoado, por outro lado, pelas lendas que descreviam o mundo fantástico oriental, retratado nas viagens de Marco Polo (1251-1323), nas Maravilhas do mundo de Jehan de Mandeville (1300-1372), na Imago Mundi (1410) do cardeal frncês Pierre d’ Ailly (1350-1420), nas Etimologie (sec. VII) de Santo Isodoro de Sevilhe ou ainda na Navigatio Sancti Brendani (séc.X)¨.
Essas histórias fantásticas acompanharam a humanidade no decorrer dos séculos, em que homens e mulheres procuravam viver uma outra realidade. É a procura do Paraíso, longe de vários problemas e doenças, das pestes, da fome e da dor. É a representação de viver eternamente, feliz e próspero. É o

sonho daquelas pessoas (aventureiras) que queriam uma terra somente para si. Uma terra próspera sem os problemas do ¨Velho Mundo¨. O ¨Velho Mundo¨ seria renovado através do além-mar, do ¨Novo Mundo¨, onde havia terra para ¨descobrir¨, ocupar, apossar...É o Des-cobrimento! É a conquista! Como afirma Orlandi,1990:14: ¨Descobrir é dizer o conhecido.¨ É se apossar e dominar uma terra alheia.

A Expansão Lusa.

No ano de 1415 – Portugal conquistou Ceuta. Esse ato significou a sua expansão para o litoral da África e as Ilhas do Atlântico, pois vencia os limites da navegação, era o início de novas conquistas. No séc. XV - com a descoberta do novo caminho para as Índias e a possibilidade de adquirir os produtos orientais por preços mais baixos, transformaram-se no principal objetivo do Estado português. Nesse processo de conquistas e expansão, Lisboa se transformou num centro comercial importantíssimo, pela oferta de produtos concebidos como exóticos no mercado europeu. Anos depois, em 1500 - Cabral oficializou a posse sobre o Brasil. Deu-se início a um grande empreendimento português, uma grande colônia prometia prosperidade e muito lucro.

A expansão espanhola

Em 1492 - a Espanha tendo superado a presença árabe e a divisão interna, reuniu forças para participar das disputas comerciais e exploração do mundo colonial, pois também tinha necessidades mercantis. Cristóvão Colombo, navegador genovês, partiu em agosto de 1492 - rumou alçando a ilha de Guanabara (San Salvador), nas Bahamas, na América Central para descobrir novas terras, novos horizontes que ampliasse a riqueza da Espanha.

Os Traçados Ultramarinos

No séc. XV - a corrida expansionista de Portugal e Espanha gerou controvérsias. Para definir direitos e territórios formularam-se diversos tratados, dos quais o mais antigo é o Tratado de Toledo - assinado em 1480. Esse tratado garantia as terras ao sul das Ilhas Canárias a Portugal, pois assegurava a rota das Índias pelo sul da África. No ano de 1493 pela Bula Intercoetera, o papa Alexandre VI determinou a partilha ultramarina entre espanhóis e portugueses. Os portugueses acharam que estavam sendo prejudicados, propuseram o Tratado de Tordesilhas. Em 07 de junho de1494 foi decidido que a Espanha ficaria com as terras descobertas ao ocidente de uma linha imaginária, tirada de pólo a pólo, e a 70 léguas das ilhas do Cabo Verde, cabendo a Portugal a que se descobrisse ao oriente. Com esta divisão, a Espanha ganhava quase toda a América, os estados do: Amazonas, Pará, Mato Grosso, quase todo Goiás, 2/3 de S. Paulo, parte de Minas Gerais, todo Paraná, Sta. Catarina e Rio Grande do Sul. Para Portugal cabia um pedaço de terra à foz do Rio-Madeira, na Amazônia. No ano de 1.500 – o espanhol Vicente Yanez Pinzon atingiu o Brasil, na altura de Pernambuco, visitando Povo Dias o estuário do Amazonas. Pelo Tratado de Tordesilhas, os Portugueses não deviam passar além do estuário do Amazonas. Em 1532 - Francisco Pizarro, chegou ao Peru, encontrando o povo Inca. Os espanhóis estabeleceram-se em seguida, organizando a administração pública nos moldes da Espanha. Pizarro se tornou autoridade suprema do território. A Espanha tinha-se espalhado pelas terras da América Central e Andina. E a Amazônia compreendia-se uma região sob seu governo. Até 1538 devido a falta de recursos financeiros, muitas pessoas doentes e que também faleceram, a exploração fora abandonada e fechada.



AS CONQUISTAS NA AMAZÔNIA

Espanholas

Em 1538 - Pedro de Anzurey reiniciou a abertura para Amazônia, com uma expedição com muitos índios, espanhóis, através dos Andes, mas não obteve sucesso. As várias intempéries de fator climático, temporal, geográfico e a falta de conhecimento da mata impossibilitaram o avanço da expansão territorial. No mês de fevereiro de 1541 - Pizarro partiu de Quito (Peru) para encontrar o “El Dorado”. Orellana que estava em Guaiaquil, chegou depois da expedição com fome e sem dinheiro, mas mesmo assim partiu em busca de seu líder. Pois as maiores dificuldades a serem enfrentadas eram os desafios da região tropical, desconhecida para o mundo europeu. Artur Reis, 1989:43, ao descrever sobre a conquista do Amazonas, relata a entrada nas matas e rios afirma:

¨...Se impressionaram com a expansão do rio. A Amazônia aparecia-lhes em seus aspectos selvagens, em toda sua grandeza assombrosa.¨

Pizarro em sua expedição adoeceu de tal forma que foi acolhido por um cacique que lhe deu assistência necessária, com medicação e alimentos. Ali, com o índio, Pizarro permaneceu dois meses. Várias tentativas foram realizadas para continuar com a expansão espanhola, mas no séc.XVI os espanhóis deixaram a Amazônia. Morreram muitos espanhóis de sua expedição, bem como muitos índios que fizeram parte da mesma para auxiliarem no enfrentamento da mata com suas belezas naturais, mas difícil de ser enfrentada, principalmente para quem não conhecia. Contam os relatos de viagem, que a expedição, em certo momento não tinha mais nada a comer, pois os índios morreram de fome e de doenças e os que sobraram se recusaram a continuar a trabalhar com os espanhóis. Neide Gondim em sua obra Invenção da Amazônia, analisa a postura do europeu ao ter encontrado o ¨Paraíso Perdido¨, o ¨Eldorado¨, a ¨Fonte de Juventude¨. E afirma que:
A viagem pelo Amazonas é dividida em três etapas: a reação, regressiva e a pretérita. O conjunto ora apresenta-se conforme suas características naturais específicas.
No período de 1580 - 1640 devido a todo um contexto histórico, social e político e a morte de D. Henrique, rei de Portugal, deu-se a anexação de Portugal a Espanha. Nessa época, isto é em 1595, holandeses, ingleses, franceses, tentam a colonização da Amazônia. Foram realizadas inúmeras tentativas de colonização. Entre 1530 e 1668 dezenas de expedições desceram dos Andes para a selva tropical enfrentando também todos os desafios da mata e dos rios.

Novas Tentativas de Colonização.

No ano de 1538 - o imperador Carlos V, da Espanha, outorgou aos comerciantes da cidade de Augsburg o direito de posse de uma parte da Venezuela, procurando assim uma tentativa estratégica para entrar na Amazônia. Várias expedições tentaram ocupá-la. Pedro de Candia e Pedro Anzurey tentaram explora-lá, em 1533 entrando pelo rio Madre de Dios e o Beni (Bolívia). George de Spires, sucessor de Alfinger, em 1536, tentou uma outra expedição, porém não obteve lucros. Em abril de 1539, Alonso de Alvarado fundou a cidade que hoje é Chahapoyos, no vale do Marañon. Em 1541 - o alemão, Philip von Huten, viajou pelo rio Caquetá por quase 1 ano, sem sucesso. Ao voltar para o litoral da Venezuela, encontrou a povoação alemã ocupada por piratas espanhóis, e foi decapitado.

Pizarro confiara o cargo a Francisco Orellana para continuar a obra de conquista. Sua expedição detectou como se formava o rio Amazonas: ¨pela direita e pela esquerda¨: Rio Negro e Rio Madeira, tentando desembarque nas aldeias indígenas em vários trechos do rio. Nessa mesma época de 1541, Orellana encontrou as índias Amazonas, diferentes das outras índias. Um ano depois atingiu o Antlântico. Orellana recebeu em 13 de fevereiro de 1544 o título de Adelantado, Governador e Capitão General das terras que colonizou, a Nova Andaluzia – depois chamada de Amazônia. Há controvérsias quanto a viagem de Orellana. Historiadores afirmam que ele teria entrado pelo rio Pará, e outros pelo Amazonas. Veio a falecer em 1546. Outros navegadores pretenderam chegar até a Amazônia, entrando pelo Atlântico: Luiz de Melo da Silva e o piloto francês João Afonso, sem, porém, alcançar o objetivo. Houve várias outras tentativas espanholas para ocupação da Amazônia em 1560: Pedro de Ursua, Gusman e Lope de Aguirre. Muitas lendas e histórias eram tecidas a respeito do Dorado recolhido. Entre muitas que eram contadas, se dizia que: havia tanta riqueza que era impossível medir; os templos, os palácios, a pavimentação das ruas da cidade de Manao eram construídos com ouro puro; o rei ao banhar-se, pelas manhãs, banhava-se num lago de águas perfumadas, sobre as quais lançavam ouro em pó.

Reação Portuguesa.

A obra dos portugueses, nesse período foi muito vagarosa, pois havia pouca gente no reino de Portugal para vir ao Brasil, principalmente para trabalhar. Por volta de 1600, pelo lado do Atlântico começou a ser ocupada a terra do Amazonas. Holandeses, ingleses e franceses disputaram as terras invadindo a explorando o delta do rio comercializando com os nativos, como se fossem donos da região. Os portugueses partiram de Pernambuco à caça dos franceses que estavam se fixando nas costas brasileiras, no Maranhão, onde S. Luiz era o sítio mais importante da colônia francesa. Eles atingiram a colônia em 1616. Nesse mesmo ano Francisco Caldeira Castelo Branco comandou uma expedição, expulsou os franceses do Maranhão e avançou para o norte, fundando o Forte do Presépio que se tornou o núcleo de origem da povoação de Belém e base de operações dos portugueses contra os estrangeiros.
Em 1612 - os primeiros jesuítas entraram no Maranhão, onde se encarregaram da catequese dos nativos, submetendo-os aos trabalhos aos colonizadores. Segundo o pensamento europeu: ¨... mostravam necessidades de trazer as tribos ao convívio da civilização européia¨.
No ano de 1621 - sob o comando de Pedro Teixeira, os portugueses esmagaram os últimos postos ingleses, irlandeses e holandeses. Além de Teixeira, sertanistas entraram no território amazonense. Estes avançaram muito mais que Teixeira. Partiram de Belém, Gurupá e Cametá, passando por Tapajós, pelo Ocidente, rumo aos limites com as colônias espanholas e adiantaram-se até o rio Solimões, com o objetivo de buscar ouro e drogas do sertão. E ao adentrarem na mata caçavam os índios. Porém, não foram bem sucedidos nas pesquisas para as descobertas das minas de ouro, colhiam com dificuldades as drogas do sertão. A caça ao índio era mais lucrativa, porém mais trabalhosa. Em 10 anos os portugueses se tornaram ocupantes da Amazônia. Entre 1600 e 1630 - os portugueses consolidaram o seu total domínio da boca do rio Amazonas. Em 28 de outubro de 1637 - sob o comando de Pedro Teixeira, a expedição partiu do Porto de Belém com toda segurança, obtendo sucessos. O Tratado de Tordesilhas foi violado em quase 1.500 milhas. Em 1669 - para impedir a passagem de navios holandeses que desciam do Orenoco para comercializar com os índios Omágua, o comandante Pedro da Costa Favela construiu a fortaleza da Barra de S. José do Rio Negro. Frei Teodoro (franciscano) foi responsável pelo aldeamento dos índios Tarumá, na boca do rio Negro, dando a origem ao povoado que no futuro seria a cidade de Manaus.



A INTEGRAÇÃO DA AMAZÔNIA AO COLONIALISMO MERCANTIL


A Amazônia constituiu-se um mundo diverso do restante do Brasil, pelos seus aspectos geográficos, naturais e culturais, distinto de várias outras naturezas. E como suas condições econômicas eram diferentes do restante do país, a administração e legislação também eram especiais. Conforme Érico Veríssimo: “Uma história, senão diversa, pelo independente da do Brasil”. Artur Reis, denominava Portugal até o séc. XV de monarquia agrária. Afirma que deste século em diante alterou sua fisionomia sócio-econômica, por força dos empreendimentos marítimos que lhes faltaram em detrimento dos poucos rendimentos das especiarias do Oriente e da África, e depois a lavoura do Brasil, com suas riquezas naturais, a matéria prima e os produtos do solo atenderam as necessidades mercantis da Coroa Portuguesa.
A Amazônia, na verdade, se apresentava de forma peculiar. Portugal via como a grande empresa onde dominaria, pois já trazia experiência de séculos. Não foi difícil colonizar mais uma parte do ¨Novo Mundo¨. A Amazônia era vista como o “El Dorado”, onde se encontrariam espécies variadas de vegetais aproveitáveis, principalmente na alimentação e na farmacopéia. Na sua esplêndida mata, os colonizadores encontraram uma variedade de plantas, que denominaram a chamada de drogas do sertão, pela utilidade que as mesmas apresentaram para o mercado europeu. Produtos que no Oriente e na Europa eram denominadas de especiarias.
Essas drogas (especiarias) da Amazônia eram: o cacau, a salsa, o urucum, as sementes oleaginosas, o paturi, o cravo, a canela, a baunilha, as raízes aromáticas, e tantas outras.
A Europa procurava as “drogas” com mais intenso interesse, pois as dificuldades da colheita das especiarias no Oriente, onde outros povos, bem mais armados e preparados tecnicamente, concorriam com os portugueses.
O extremo-norte do Brasil se apresentava para Portugal, como um ponto estratégico, geograficamente e também comercialmente, de início, sem concorrências, constituindo uma verdadeira revelação ao Reino Português. Sérgio Buarque de Holanda, historiador brasileiro, em suas pesquisas constata num documento, que:

¨Um português – comentava certo viajante em fins do século XVIII – pode fretar um navio para o Brasil com menos dificuldade do que lhe é preciso para ir a cavalo de Lisboa ao Porto¨.

Buarque de Holanda, id ib, ainda questiona:
¨E essa ânsia de prosperidade sem custo, de títulos honoríficos, de posições e riquezas fáceis, tão notoriamente característica das gentes de nossa terra, não é bem uma das manifestações mais cruas do espírito de aventura?¨
Portugal esperava encontrar um sucedâneo da Índia, que satisfizesse as necessidades mercantis para a riqueza de sua Coroa. Nos relatos e documentos encontrados consta que : “As ordens e instruções, para se incorporasse à riqueza da colônia, a grossa produção do sertão, durante os séc. XVII e XVIII foram realizadas”. Ainda em 1797 - a Metrópole mandava que se buscasse encontrar algumas drogas raras, mas necessárias, o quina, o paxuri, a árvore da casca preciosa e o salitre. Reis,1982:92 afirma que: “Do Natal até S. João, fazia-se a colheita do cacau silvestre com cravo. Se penetravam todos os cursos fluviais com os olhares voltados para a floresta amiga..... As drogas do sertão são para o Estado do Pará o mesmo que as minas têm sido para Portugal”. Na verdade, a Amazônia constituía a

última fronteira de riquezas naturais para a Metrópole. Sua economia deveria suprir as necessidades e os problemas de Portugal. A Amazônia era vista como o Eldorado não só pela imensidão de suas terras, matas e rios, mas a promessa do empreendimento era voltuoso.
Ainda segundo Reis, id ib.:

¨A economia não deveria se apoiar só na colheita da produção natural, deveria se apoiar também no “trato da Terra”, devido ao novo clima e temperamento do céu, nela se podendo cultivar espécies de toda a redondeza do mundo.¨

Os Holandeses e ingleses, ao ocuparem uma parte da Amazônia já cultivavam em suas feitorias a cana de açúcar, obtendo resultados positivos, principalmente em Belém onde foi realizada primeira tentativa do plantio da cana de açúcar. Os portugueses, em seguida, cultivaram as próprias drogas: cacau, cravo, canela e baunilha. Para os colonos eram dados prêmios em dinheiro, em garantias, concessões, facilidades que serviam de incentivos para continuarem a trabalhar na terra. Em 1731 o lavrador solicitava as mercês (recompensas) prometidas pelas cartas régias, à Caravana de Belém e ao governador do estado para implementar na sua obra. Constatou-se que nessa época esse mesmo lavrador plantou 18.900 pés de cacau. (REIS,1993:93) Foram ainda plantadas outras espécies como: o anil, o café, o algodão e o tabaco. Havia uma legislação que amparava e protegia a atividade do colono. Ele era isento de impostos e tinha instruções de procedimentos da colheita. (id ib) Essa experiência de cultivo durou até meados do séc. XVIII. De Pombal em diante, ao realizar a reforma na Metrópole através da Amazônia, continuou-se tal cultivo e foram introduzidos outros tipos exóticos. (id.ib:94) Já nesta época, segundo as afirmações de Mendonça Furtado, o objetivo era transformar o Estado num grande campo onde o colono exercitasse a larga agricultura. As atividades agrícolas eram assim distribuídas: o anil aconselhava pelo Reino, foi desenvolvido principalmente na capitania de S. José do Rio Negro. O arroz,, o café, o cacau, o tabaco, continuaram a ser trabalhados. A maior lavoura era das manibas, de que se fazia farinha, base da alimentação indígena, a que o colono foi se adaptando. Novos gêneros eram o cânhamo, o linho, pimenta, nós moscada, frutos europeus. De Cayena chegavam várias, espécies cobiçadas e imediatamente cultivadas. Para assistir os colonos com mudas e sementes, o capitão-general Souza Coutinho estabeleceu em Belém, um grande horto, que recebeu o título de Jardim Botânico, sendo louvada por Lisboa a iniciativa.Por parte da coroa eram emitidos elogios e aplausos pelo sucesso da agricultura e pelos seus novos empreendimentos.
O progresso da agricultura encontrava entrave forte na concorrência das “drogas”, sempre lembradas de Portugal, na pobreza dos colonos, forçados a empresas de vulto, na resistência do índio que não se substitua pelo africano pela falta de conhecimentos técnicos dos povoadores, improdutividade dos diretores de povoados, mais interessados em operações imediatas de comércio. A política protecionista, em consequência, não podia surtir efeitos sensíveis. Os empreendedores na Amazônia, como por exemplo, D. Francisco de Souza Coutinho, comunicava à Metrópole a série de esforços que vinha desempenhando para tirar o Estado da condição de produtor, unicamente em especiarias, pois o medo de Portugal era perder essa terra. Outra tentação do colono na Amazônia (como em todas as partes do mundo), era explorar a riqueza do sub-solo, principalmente na Amazônia, pelo fato de ter-se criado o mito do ouro. Tendo em vista tal objetivo, várias expedições, com o povo oficial, foram realizadas, procurando os POTOSIS.
Em 1640 - Bartolomeu Barreiro de Athayde, saiu de Belém em busca de um Rio do Ouro, que nunca foi identificado. Anos após, em 1647 – partiu outra expedição com a mesma finalidade e sem


resultados. Para a exploração do subsolo com a pretensão de encontrar ouro, tantas outras expedições foram realizadas:

• Paulistas descendo o Mato Grosso, de Goiás, pelo Rio Madeira, pelo Rio Tapajós e pelo Rio Tocantins.
• Em 1673 - na Corte correu a notícia de que no Rio Tocantins os bandeirantes da Paulicéia tinham afinal encontrada usinas. O Pe.Antônio Raposo verificou, onde D. Pedro sulcou o rio, e nada encontrou.
• Várias tentativas foram realizadas, mas todos foram falsos descobrimentos, de forma que o governo português proibiu qualquer aventura para descobrir minas de ouro.

Outra fonte de riqueza foi encontrada pelos portugueses – a pesca. Foram encontrados os rios com peixes de vários tamanhos e cores, para todas as utilidades, inclusive para o comércio. Os campos de Marajó (localizados no norte de Belém) - ofereciam boa pastagem, clima ameno, propício para fundação de fazendas para criação de gado.

• Em 1680 - Francisco Rodrigues Pereira - fundou a primeira fazenda.
• 1696 - Os religiosos das Mercês também instalaram fazendas.
• Em 1759 - só os Jesuítas possuíam 136.000 cabeças de gado.
• Em 1793 - na ilha, haviam 153 fazendas de gado
• O aproveitamento fabril da flora e da fauna regionais consistiu objeto de ocupação do colono.O gentio trabalhava, em moldes ainda rudes, no preparo da manteiga de tartaruga, farinhas e artefatos de borracha.
• Em 1751 - contavam-se 42 engenhocas no Pará.
• No fabrico do anil - eram sistemas muito primitivas, montados sob o aplauso do Estado que ajudou com a isenção de taxas e outros favores.
• No Solimões - manufatura-se a manteiga de tartaruga.
• Em Salinas, na beira do mar, aproveitava-se o sal.
• No final do século, a atividade industrial cresceu.
• 1784 - Belém - 07 engenhos de descascadores de arroz, fiadores de algodão.
• O leite da seringueira começou a ser aproveitado em pequenos artefatos.
• O cacau para o fabrico de chocolate. Na capitania de S. José do Rio Negro o governador montou estabelecimentos de fiação de algodão e outras fibras.

A Amazônia foi ocupada em todos os aspectos, principalmente foi constituída em função da água e da floresta e esta ocupada apenas nas margens dos rios, igarapés, lagos, onde o colono e o nativo fizeram a clareia necessária à pousada que levantaram. Mendonça Furtado dizia: “A Amazonas era a estrada real”. O governo lusitano não permitiu o estrangeiro ao acesso à região. A navegação do Madeira por onde podia passar o contrabando do ouro do Mato Grosso, o espanhol descer de Santa Cruz, foi fechada pelo Alvará de 27/10/1733. . A do Tocantins, foi decretado em 10/01/1730. O alvará de 14/11/1752 - abrira o Rio Madeira, abrindo relações comerciais com as outras capitanias. Em 1761 foi inaugurado o estaleiro em Belém, que substituiu a velha Casa das Canoas, onde a Cia. Do Comércio do Grão-Pará construiu três grandes navios para viagens à Europa. Durante um século e meio se praticava o escambo.


No interior do Estado os produtos eram trocados porque não circulava dinheiro. Tudo se pagava em gêneros: rolos de pano, novelos de fino, cacau e cravo, inclusive o vencimento (salário) do funcionalismo.
Em 1726 - circulava algum dinheiro, vindo do interior do Maranhão, que receberam nas comunicações com Pernambuco. Em 1743 - foi oficializado o salário dos oficiais em moeda. A circulação oficial iniciou em 1749 - remetidos de Lisboa para o estado do Maranhão e Grão -Pará. O comércio não tinha nenhum incentivo judiciário, continuando nas mãos de regatões, “traficantes”, mantendo na canoa tripulada de índios para irem aos sítios dos lavradores, estabelecidos em diversos rios, lagos, fazendo permuta de gêneros. Era todo um processo primitivo.
As relações com o exterior se faziam apenas com Lisboa, em charruas que tocavam o porto de Belém em épocas determinadas. Em 1759 - a Câmara de Belém requereu a vinda de navios para buscar a produção da Capitania.
No fim do séc. XVIII em diante, no início da Revolução Industrial, de Belém foram embarcados arrobas de cacau, algodão, café, arroz, o que se juntava em grande escala, a madeira, para a construção de edifícios reais e de embarcações no Arsenal de Lisboa. Entre 1773 e 1802 foram exportados milhares de toneladas de produtos: cacau, milho, arroz, café. No ano de 1809 - iniciou-se a exportação da seringa, para a Inglaterra. A abertura dos portos brasileiros ao comércio das nações amigas, abriu novos horizontes. Belém começou a comercializar com a Inglaterra, América do Norte, Antilhas e Holanda.

O Povoamento e a Mão de Obra utilizada na Economia

Os elementos humanos que contribuíram para o povoamento foram os mesmos que encontramos no restante do Brasil:

• O índio – uma população numerosa, porém não era considerado fonte suficientemente para o duro trabalho, por isso era caçado violentamente pelo sertanista, reunido em aldeamento pelos Missionários e descido pelas autoridades civis e militares. O aldeamento foi o núcleo humano com maior número de membros e era utilizado para todo tipo de tarefas.
• O negro africano – não foi tão representativo, mas era escravizado. Como a agricultura era incipiente não se fazia tão necessária sua mão de obra. A falta de fundos financeiros não permitia o comércio negreiro dos colonos, mesmo com a insistência das representações do governo para que se facilitasse o mercado negreiro. Os primeiros negros foram introduzidos pelos holandeses.

A Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará trouxe 12.587 pessoas para a região, sendo 7.606 escravos. No início da colonização da Amazônia, a força de trabalho do negro era desprezada, devido às facilidades do aprisionamento dos índios. A Lei de 06 de junho de 1755 aboliu a escravização do índio, daí a procura do negro foi se intensificando. Ainda em 1616, com a fundação do Presépio os portugueses já cogitavam em trazer os açorianos. Entre 1620 e 1921 chegaram mais de 200 pessoas que se distribuíam pelas capitanias. Anos depois, em 1667, foram distribuídos nos distritos políticos – um pouco mais de 700 pessoas. Cada capitão mor ou governador que chegava de Portugal a Belém trazia consigo novos povoadores. As primeiras décadas de colonização da Amazônia as expedições coletoras eram baseadas na base da produção. A atividade era organizada com os índios, espalhados em diversas áreas para extraírem substâncias naturais: óleo de tartaruga, especiarias, madeiras de lei, óleos vegetais


e sementes de cacau. Em troca recebiam dos missionários e comerciantes portugueses, ferramentas, bugigangas e ocasionalmente salário.
A Coroa Portuguesa, oficialmente estimulava empreendimentos agrícolas, com o objetivo de constituir uma base mais estável para a efetivação da colonização da região. Porém, para o desenvolvimento agrícolas as condições ainda eram enviáveis, porque:

• Era muito distante o acesso aos escravos negros
• O transporte muito caro
• A Amazônia não ostentava recursos agrícolas excepcionais e nem metais preciosos.
• Baixa produção nas colheitas.
• A maioria dos colonos da Amazônia eram pobres para comprar escravos.

A solução encontrada pelos colonos portugueses era escravizar os índios para utiliza-los como mão-de-obra. Devido aos maus tratos aos índios, os missionários impediam o acesso aos índios das missões. Esta política hostilizava ainda mais os colonos, cujos investimentos econômicos regrediram por falta de mão-obra, enquanto florescia a agricultura e a pecuária dos jesuítas. A atividade coletora tornou-se atraente para a população ¨cabocla¨ devido às exigências mínimas de capital. Devido a falta de material e de contatos externos, o coletor geralmente tinha que fazer um tipo de acerto com um comerciante local, a fim de adquirir os bens de que necessitava. No período de 1760 a 1822, mais da metade das exportações do Pará, provinha principalmente mais de fontes silvestres do que de plantações (agricultura). Muitos elementos teríamos para discursar sobre a Amazônia, porém finalizo aqui com um pensamento de Neide Gondim,(op.cit):

“Para o estrangeiro, a Amazônia é a metade do início e do fim, é o encontro dos opostos. Vem a ser igualmente, o refúgio da insatisfação do homem diante de seus iguais”.

Fontes

http://www.culturabrasil.org/contestacoes.htm
http://www.amazonia2002.de/Porto_Velho/Moser/Moser_Portugues/body_moser_portugues.html

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